Se a gente olhar direitinho, acha o ex-diretor da Abin escondidinho no meio da farra do INSS

O escândalo do INSS tá cheio de, digamos, coincidências. E Alexandre Ramagem pode estar no meio delas. Como diria Goulart de Andrade, vem comigo.
Ontem, quando o ministro Wolney Queiroz deu uma invertida no senador Sérgio Moro, uma coisa quase passou desapercebida. Na tentativa de se desassociar da “falta de vontade” da Polícia Federal de Bolsonaro em investigar as fraudes que começaram no governo anterior, Moro alegou que não soube da denúncia feita por um servidor do INSS e que não estava mais no Ministério da Justiça. É uma meia verdade.
Moro já tinha saído do governo mas a PF na sua gestão não investigava nada. Quando havia alguém que queria investigar algo, Bolsonaro trocava e Moro fazia que não via. Só quando foi humilhado, deixou o governo. Foi, assim por dizer, forçado a se demitir. E entrou em seu lugar André Mendonça, o hoje “terrivelmente evangélico” ministro do STF, conhecido por divergir quase que sempre dos colegas nas pautas do 8/1, ao lado de Nunes “Praga” Marques, aquele das férias no iate de Gusttavo Lima.
Mas em maio de 2020, Mendonça era ministro da Justiça e o ungido pela família Bolsonaro para a direção da PF era Alexandre Ramagem, amigo do peito dos filhos do presidente e diretor da Abin. Sim, o mesmo Ramagem que da trama golpista, que investigou todos os adversários de Bolsonaro por baixo dos panos, réu no STF por golpe de Estado e que a Câmara tenta salvar. Ramagem ia para a Polícia Federal porque o então diretor era Mauricio Valeixo, cupincha de Moro e não agradava o presidente.
O STF não deixou Ramagem ser o diretor da PF. Alegou que as ligações dele com o povo do Vivendas da Barra não o deixavam ilibado o suficiente. Aí, o capitão tirou um coelho da bolsa de colostomia: nomear o número 2 da Abin, braço direito de Ramagem. E foi isso que aconteceu. O diretor da PF nomeado foi Rolando Souza, amigão de Ramagem.
Corta para setembro de 2020: o tal servidor denuncia à Polícia Federal o que rolava no INSS. O diretor da PF já era Souza, amigo de Ramagem, amigo de Bolsonaro. Nada aconteceu. Depois de sair da PF, Rolando foi para os EUA: virou adido na Embaixada em Washington menos de um ano depois. Perguntar não ofende: seria uma premiação?
O ministro da Justiça era André Mendonça, indicado por Bolsonaro para o STF. (Belo prêmio.) Quem ficou no seu lugar foi o infame Anderson Torres, aquele que viajou de férias pros EUA quando era secretário de Segurança do DF no 8 de Janeiro. Eu não sou de acreditar de teorias da conspiração, mas acho isso tudo muita coincidência.