Em movimento que agita bastidores da política pernambucana, João Campos anuncia férias e coloca vice na linha de frente da gestão municipal. Decisão é vista como preparação estratégica para possível disputa ao governo em 2026.
O timing do “test drive”
Victor Marques (PCdoB) assume interinamente a Prefeitura do Recife nesta sexta-feira (17), em momento crucial para definição do futuro político da cidade. A decisão, anunciada por João Campos em suas redes sociais, vai além do simples período de descanso do atual prefeito.
“Tenho certeza que ele vai pegar no serviço pra gente seguir com todas as entregas pros recifenses”, afirmou Campos, em mensagem que sinaliza confiança no substituto, mas também revela cautela estratégica na transição de poder.
Acumulação estratégica de poder
O fortalecimento político de Victor Marques vem sendo construído através de uma série de movimentos estratégicos cuidadosamente planejados pela gestão Campos. Sua nomeação como Secretário de Infraestrutura representou o primeiro passo significativo, colocando-o à frente de uma das pastas mais importantes e visíveis da administração municipal.
A recente inclusão no conselho da Emlurb amplia ainda mais sua influência sobre decisões cruciais para a cidade, especialmente no que tange à manutenção urbana e serviços essenciais. Sob sua gestão, importantes obras têm sido conduzidas pela cidade, proporcionando visibilidade e experiência administrativa.
Além disso, sua presença em eventos públicos tem sido intensificada, numa clara estratégia de aproximação com a população e fortalecimento de sua imagem como gestor público. Esta exposição crescente tem sido fundamental para combater críticas sobre sua suposta inexperiência.
As críticas da oposição
A escolha de Victor Marques como vice-prefeito provocou ondas de contestação no cenário político local. O rompimento histórico com o Partido dos Trabalhadores na vice-prefeitura, quebrando uma tradição que remontava aos anos 2000, gerou tensões significativas no campo progressista. Esta decisão foi interpretada por muitos como uma reconfiguração das alianças políticas tradicionais na capital pernambucana.
Questionamentos sobre sua experiência administrativa emergiram com força durante a campanha eleitoral, com críticos apontando sua limitada atuação prévia em cargos públicos. A acusação mais contundente veio do ex-ministro do Turismo e então candidato do PL, Gilson Machado, que o rotulou como “poste comunista”, sugerindo que seria apenas um representante manipulável dos interesses de João Campos.
A amizade como fator político
A relação próxima entre João Campos e Victor Marques, que remonta à adolescência de ambos, tem gerado interpretações diversas no cenário político. Apoiadores da gestão enfatizam que esta longa amizade resulta em uma sintonia administrativa benéfica para a cidade, permitindo decisões mais ágeis e alinhadas com a visão do prefeito.
Por outro lado, críticos interpretam esta proximidade como potencial fragilidade, sugerindo que a lealdade pessoal sobrepôs-se a critérios técnicos na escolha do vice. Analistas políticos dividem-se quanto ao impacto desta relação na autonomia decisória de Victor Marques, especialmente em um cenário onde ele venha a assumir definitivamente o comando da cidade.
Cenários para 2026
A gestão interina de Victor Marques pode configurar diferentes cenários políticos para o futuro do Recife. No primeiro e mais discutido cenário, esta experiência serve como preparação para uma sucessão definitiva. Caso João Campos opte por renunciar em 2026 para disputar o governo do estado, Victor assumiria a prefeitura por metade do mandato, tendo tempo suficiente para consolidar sua gestão e construir uma possível candidatura própria.
Em uma segunda possibilidade, o período serviria para um fortalecimento político mais gradual. A exposição crescente à população, combinada com o acúmulo de experiência administrativa, permitiria a construção de uma base eleitoral própria, independente da influência direta de João Campos.
Impactos na política local
O período de gestão interina de Victor Marques tem potencial para provocar mudanças significativas no cenário político recifense. As alianças partidárias estabelecidas podem ser reavaliadas, considerando seu desempenho e capacidade de articulação. O relacionamento com a base governista será testado, revelando sua habilidade em manter a coesão do grupo político.
A continuidade e eventual conclusão de projetos em andamento durante sua gestão interina poderão fortalecer ou enfraquecer sua posição como possível sucessor. Além disso, este período pode desencadear uma reconfiguração política significativa visando as eleições de 2026, com novos alinhamentos e estratégias sendo definidos a partir de seu desempenho.
Desafios imediatos
Victor Marques enfrentará desafios consideráveis durante sua gestão interina. A continuidade dos projetos em andamento exigirá habilidade administrativa e conhecimento profundo das dinâmicas municipais. A gestão da máquina administrativa, com seus complexos processos e múltiplos atores, demandará capacidade de liderança e tomada de decisão.
O relacionamento com a Câmara Municipal será crucial, especialmente na aprovação de matérias importantes para a administração. Manter os índices de aprovação da gestão atual também se apresenta como um desafio significativo, considerando as altas expectativas da população e a natural comparação com o estilo de gestão de João Campos.
Perspectivas futuras
O “test drive” de Victor Marques como prefeito interino pode ser determinante para diversos aspectos da política local. A definição da sucessão municipal dependerá significativamente de seu desempenho neste período, influenciando as estratégias do PSB para 2026 e além.
Este momento também pode marcar uma importante reconfiguração das forças políticas locais, com possíveis novos alinhamentos e rompimentos baseados em seu estilo de gestão. O futuro da administração João Campos também está em jogo, pois o sucesso ou fracasso de seu escolhido impactará diretamente seu capital político para disputas futuras.