Por Ivan Moraes
Faz tempo que Wilfred me sugeriu esse artigo. Acho que o momento foi logo no iniciozinho desse site, quando ele começou a botar quente com notícias e análises todo dia. Foi numa troca dessas enquanto eu aplaudia a iniciativa do companheiro bom de letra e de juízo, que vem se atrevendo a meter o dedo nas feridas da nossa coisa pública. Chegou a hora de eu entregar essa promessa. Pré-candidato que estou ao governo, fica feio prometer e não cumprir. Faltando menos de um ano para o povo ir às urnas, na era da hiperconexão, faz sentido falar sobre jornalismo.
Sabe jornalismo? Apuração cuidadosa, respeito à linguagem, checagem? Apesar de tanta gente dizendo que faz, nesse tempo de multiplicação gremliana de blogs e perfis “sobre política” que transitam entre o caça cliques e a fofoca, é preciso aplaudir quem ousa investir em jornalismo de verdade. Não é de hoje que eu reflito (e verbalizo) a preocupação com esse fazer.. Não o texto escrito de qualquer maneira, mas o jornalismo mesmo. “Jornalismo jornalismo”, como manda o bom recifês. Aquele negócio que tem técnica, que tem ética, que segue parâmetros e que se desafia a separar dado de opinião, fato de pitaco, release de matéria.
Tenho sentido na pele a falta que isso faz. Em oito anos que estive como vereador, conto nos dedos as vezes em que vi repórteres “reportando” sobre o trabalho na Câmara. Sim, sim, a turma aparecia aqui e ali, principalmente quando identificavam o que poderia ser noticiado como um “escândalo” ou “polêmica”. Raramente quando, por exemplo, um projeto de lei importante estava em tramitação ou quando algum vereador da oposição trazia críticas à prefeitura (que executa milhões em publicidade, principalmente na mídia tradicional comercial).
Agora, indicado pelo PSOL para construir um programa máximo, ousado e possível para Pernambuco, você não imagina a dificuldade que é para conseguir espaço nos veículos que teriam a tarefa de mostrar para as pessoas a diversidade de propostas que há em disputa no próximo ciclo eleitoral. A cidadã que abre o jornal, certamente vai pensar que há apenas duas possíveis escolhas: a atual governadora que busca a reeleição e o atual prefeito da capital que, líder das pesquisas, quer “comer o seu cartão”. Se há outros projetos em construção, já referendados pelos seus partidos, não seria jornalisticamente importante que a imprensa informasse à população? Eu acho que sim. Por isso não deixa de ser curioso quando colegas dizem que não conseguem me colocar na pauta porque “não estão ainda cobrindo eleições” enquanto o mesmo jornal tá dizendo que Fulano tá com o apoio de Sicrano e que Beltrana tem não-sei-quantos prefeitos em seu palanque.
Digo mais: além de brigas, tretas, conchavos, apertos de mão, reuniões, o que mais você encontra no chamado “jornalismo político”? Algum debate sobre concepção de Estado? Uma reportagem sobre a coerência histórica dos personagens sobre determinadas pautas ou declarações? Alguma comparação sobre de que forma tal e tal partido ou político está disposto a enfrentar determinado problema? Existir, existe! Mas é raro. Também por isso aposto minhas fichas na agência Marco Zero, n’O Fervo, no Política com Opinião, no Blog do Vandeck, no Blog Dellas e em outras iniciativas de jornalistas que, como eu, amam e compreendem a importância de se fazer notícia com o rigor e a diversidade de pautas que a boa prática demanda.
Dia desses, buscando furar esses bloqueios, fechei os olhos e voltei no tempo. Lembrei de mais de 20 anos atrás, quando num debate com jornalistas, um editor de política (gente fina, amigo meu), foi questionado sobre o espaço que era dado a candidaturas de partidos menores em momentos eleitorais. O cabra foi categórico: “Não é pra dar espaço semelhante. No Campeonato Pernambucano, você acha que o Íbis tem que ter a mesma cobertura do Sport?”. “Mas a cobertura da imprensa não vai fazer o Íbis ganhar ou perder”, pensei com meus botões.
Estou convencido que não haverá jornalismo independente e livre sem recursos públicos não discricionários. Editais transparentes, regras objetivas e a obrigatoriedade de seguir ao menos o código de ética da profissão poderiam florestar os “desertos de notícias” que ainda temos em vários territórios e em vários temas. Parte dos mais de R$100 milhões reservados pelo Governo do Estado para abastecer os já rechonchudos cofres dos barões da mídia poderiam ir para coletivos de comunicação popular, portais de jornalismo independente, produtoras de notícias em audiovisual, programas de rádio disponibilizados para o povo em forma de podcast. Eu fecho os olhos, penso nisso e vejo uma revolução acontecendo a partir da informação.
Em 3 de outubro, Wilfred usou seu espaço de opinião para tentar responder se as eleições de Pernambuco já estavam decididas. Corretamente e com bons argumentos, ele respondeu que não. Que muita coisa ainda podia acontecer. Eu concordo e acrescento um dado que ele não usou. Uma pesquisa recente (Real Time Big Data) aponta que mais da metade da população nem me conhece ainda. Pra mudar esse cenário, eu tou fazendo o meu (bênça), torcendo e bulindo pra que o jornalismo faça o dele também. Promessa cumprida.

Ivan Moraes é jornalista, escritor, pai, folião e pré-candidato ao governo de Pernambuco pelo PSOL