Botando Quente

Uma cortina de fumaça tênue demais pra encobrir um incêndio gigantesco

A “denúncia” de uma suposta contratação da empresa do marido da tia do companheiro da deputada Dani Portela (PSOL), que na prática, nem parente é da parlamentar, mostra que a CPI do DódiGate já começou. Uma das primeiras táticas de alvos encurralados é mostrar os dentes e é muita coincidência a divulgação dessa possível irregularidade – que, a priori, não é irregular – um pouco antes da escolha dos integrantes da comissão nos revela que o nível dos ataques vai ser esse, para a festa dos grupos de WhastApp.

Não é o primeiro torpedo contra Dani, que já tá na mira do primo da governadora Raquel Lyra, Waldemiro Teixeira, mais conhecido no meio publicitário como Dódi, por acionar a Justiça contra a ainda psolista, numa evidente tentativa de amedrontá-la. Agora, essa acusação, apontando que a Coutinho Assessoria LTDA, contratada pelo gabinete de Dani, é de propriedade de Wildson Pinto Coutinho, casado com a tia de Jesualdo Pontes, companheiro da deputada. 

A assessoria contábil teria recebido quase R$ 500 mil do gabinete desde agosto de 2023, um mês depois de criada. Foram 10 meses, entre agosto de 2013 e  junho de 2024, recebendo R$ 14.711,20, R$ totalizando 147.112, e mais 13 meses (julho do ano passado a julho desse ano) perfazendo R$ 23.856, com o acumulado nesse tempo de R$ 310.128. 

Dani foi ao plenário, soltou os cachorros e também se defendeu via nota, afirmando que não há nada de irregular na contratação – e não há mesmo – e que é uma das parlamentares que mais devolve verbas indenizatórias. Também falou em um dos pontos mais delicados: o suposto uso de dinheiro público para custear uma rede de perfis e de produção de conteúdo atacando opositores do governo. Já estão chamando de Gabinete do Ódio de Caruaru. Segundo a deputada, foi anunciar a CPI e um bocado de perfil sumir do Instagram e do Facebook. Alguns com até meio milhão de seguidores e que faziam colab, ainda segundo a parlamentar, com perfis oficiais do Estado.

A denúncia é fofa.

Ponto.

Agora, como retórica situacionista,  cortina de fumaça para o que realmente importa, tem sua serventia em grupos de WhatsApp. E é o que já está acontecendo, acusando a deputada de corrupção.

Mas não é a mesma coisa. A começar pela situação do tal parentesco. O malabarismo para chegar até uma possível responsabilização de Dani Portela é dos mais rocambolescos: o tio da esposa do marido. Eu tenho tio que nem conheço, imagina “tio da mulher do primo da cunhada da sobrinha”, que é mais ou menos o caso. No caso da CPI, Dódi é primo da governadora. Vai ver não são próximos também.

Outro ponto é o valor. Acusam a deputada de ter pago R$ 457,2 mil reais, ao longo de dois anos, a tal Coutinho Assessoria. Já no DódiGate, que também não tem nada comprovado, diga-se de passagem, o valor é de R$ 1,2 bilhão em contratos de publicidade para quatro agências, 2.624 vezes do que o que Dani Portela pagou. Dá pra comparar?

Dani já disse que não vai se intimidar. É bom ela se preparar porque vão vir com tudo. A CPI do DódiGate já começou. Salve-se quem puder.

A quem interessar possa

Todas as digitais da denúncia sugerem que isso cheira a Palácio das Princesas, mas a quem interessa enfraquecer a CPI?

Wilfred Gadêlha

Nascido em Goiana-PE no período pleistoceno, Wilfred Gadêlha é formado em jornalismo pela UFPE. Atuou em vários veículos como repórter e editor, é geminiano, metaleiro e metido a cantor. Já escreveu livros, apresentou programa de rádio e dirige e roteiriza documentários que ninguém viu. Também foi secretário de Comunicação na terra-natal e em São Lourenço da Mata e fez várias campanhas - algumas perdeu e outras ganhou.

® O Fervo. Botando Quente. Todos os direitos reservados.