Rede articulada de perfis nas redes sociais teria sido criada para promover Raquel Lyra e atacar opositores, envolvendo servidores públicos e possível uso de recursos do Estado
A CPI do Bilhão ainda nem começou oficialmente mas as preliminares estão dando o tom do que vai ser: depois de ser mais uma vez atacada por suposta malversação da verba de manutenção do mandato, a deputada Dani Portela (PSOL) partiu pra cima e apresentou denúncia na Assembleia Legislativa sobre a existência de um “gabinete do ódio” articulado e financiado para divulgar conteúdos positivos sobre a governadora Raquel Lyra e atacar adversários políticos no Estado e até no governo federal. O material, composto por prints, registros do Diário Oficial e dados do Portal da Transparência, indica possível uso de recursos públicos para alimentar a operação.

Segundo o relatório, a estrutura reúne quase duas dezenas de perfis no Instagram, com nomes que se apresentam como portais de notícias, páginas de memes ou contas pessoais.
Parte significativa foi criada recentemente, em plena campanha de 2024, como os perfis @pecomraquel, @recife_de_verdade e @petaligadoficial, todos inaugurados entre agosto e setembro do ano passado. Em fevereiro de 2025, surgiu o @pe_soberanoreserva. Um diagrama anexo ao documento mostra intensa conexão entre as contas, sugerindo atuação coordenada. Muitos foram desativados logo que a CPI foi anunciada, na segunda 11, no que Dani Portela chamou de “queima de arquivo”.
Esses são os perfis identificados pela deputada:
• @pergunteatabata
• @portaldeprefeitura
• @madalenaordinario.ofc
• @timeraquellyra
• @buchorecifense_
• @salgadinho_ordinario69
• @pernambucoordinario.ofc
• @cortesraquellyra
• @recifepoliticando
• @peviralizado
• @xandepessoape
• @pecomraquel
• @petaligadoficial
• @pe_soberanoreserva
• @mblpernambuco
• @timeraquel55
• @professorthiagope
• @alertainteriorpe
• @pobre.deesquerda
• @raqueleprimudanca
Secretário – O relatório indica que o secretário-executivo de Comunicação de Pernambuco, Diego Abreu, integra o grupo de WhatsApp Boas Notícias PE, utilizado para coordenar as postagens do chamado “gabinete do ódio”.
O documento aponta pelo menos cinco servidores comissionados, lotados na Secretaria de Comunicação e na Casa Civil, além de Abreu, como integrantes do grupo que articularia o conteúdo dos perfis. A seguir a lista, com as respectivas remunerações:
- Diego Silva Abreu – Secretário-Executivo DAS (Secretaria de Comunicação) – R$ 14.300,00
- Thiago da Silva – Assessor Especial de Articulação e Acompanhamento (Casa Civil) – R$ 8.601,34
- Clarisse Alexandre Teixeira Lopes – Assessora CAA (Secretaria de Comunicação) – R$ 8.667,39
- Rafaela Dourado Manilha – Gerente Geral FDA (Secretaria de Comunicação) – R$ 9.560,87
- Luciana Maria Furtado de Mendonça de Aguiar Albuquerque – Gerente FDA (Secretaria de Comunicação) – R$ 5.765,22
- Maria Isabella Vieira Camargo – Assessora CAA (Secretaria de Comunicação) – R$ 5.150,54
O caso de Thiago da Silva é sui generis. Apontado como um dos membros mais atuantes da rede, foi candidato a vereador do Recife pelo PSD, partido da governadora, e, em março de 2025, nomeado assessor especial na Secretaria da Casa Civil, com salário bruto de R$ 8,6 mil. Ele aparece de forma recorrente nas interações do grupo Boas Notícias PE e mantém perfil próprio dentro da rede de contas denunciada, participando ativamente na disseminação de publicações alinhadas ao governo.
Articulação – A denúncia destaca ainda um grupo no WhatsApp chamado Boas Notícias PE, administrado por dois dos perfis presentes na rede, Arrudeio Comunica e PEtaligado. Entre os integrantes, aparecem os servidores listados acima. A Arrudeio Comunica é registrada como empresa de comunicação e fornecedora de serviços de notícias e internet.
Para a deputada Dani Portela, a atuação do “gabinete do ódio” configura uso indevido da máquina pública, fomento a desinformação e violação de regras eleitorais e de comunicação institucional. O material sugere que a rede cria uma narrativa favorável ao governo de Pernambuco, travestida de conteúdo espontâneo ou jornalístico, enquanto ataca adversários políticos.
“Estão utilizando fake news infundadas para me atacar e desviar o foco da CPI, que busca investigar os gastos bilionários em publicidade do governo estadual. Política não se faz com ódio, mas com fatos e com a verdade. O ódio não vai nos calar”, afirmou a deputada nas redes sociais.