A ofensiva do PSD de Raquel Lyra sobre outros partidos está contando com uma aliada, digamos, endinheirada: a Empetur. Em maio desse ano, pelo menos quatro prefeitos deixaram seus partidos para entrar na agremiação da governadora, “coincidentemente” logo após a Empresa Pernambucana de Turismo patrocinar um bocado de shows nas cidades geridas por eles. Nessa brincadeirinha, os investimentos nas festas no interior, justamente nos municípios da base aliada de Raquel, explodiram em maio, de uma maneira nunca antes vista em Pernambuco, mas que O Fervo vai mostrar ao longo de uma série de reportagens durante a semana. 

Os prefeitos que entraram no PSD da governadora logo após a Empetur patrocinar eventos em suas cidades são: Maria do Socorro Coelho de Sousa, mais conhecida como Corrinha de Geomarco, de Dormentes, ex-PSB; Elias Batista de Lima, o Elias Meu Fii, ex-MDB, de Pombos; Fabio Lisandro de Lima Barros, conhecido como Fabinho Lisandro, ex-presidente estadual do PRD, prefeito de Salgueiro; e Washington Ângelo, de Tacaratu, outro que trocou o MDB pelo PSD. 

No Sertão Central, o prefeito de Salgueiro, Fabinho Lisandro, era do PRD, partido que deixou a base de sustentação de Raquel. Eleito no ano passado com o apoio da governadora, ele fez a migração para o PSD em 27 de maio. Não antes de usar a sua influência junto ao Palácio das Princesas e conseguir que a Empetur bancasse, em 17 de maio, os R$ 150 mil do show do regueiro Édson Gomes, no Moto Fest da cidade. 

Não sou eu quem tá dizendo isso: é o próprio Fabinho, que se orgulha de usar da sua “articulação política” junto à governadora, à Fundarpe e à Empetur para turbinar o Moto Fest. Batizado no palco como motociclista, com direito a colete de couro e tudo, o prefeito garante que no ano que vem o evento vai ser ainda melhor e convida o público a curtir muito “rrrreggae” ao som do lendário cantor baiano.

DEU BODE – Na campanha de 2024, a então candidata Corrinha ostentava nas suas redes sociais um vídeo do prefeito do Recife João Campos, maior nome do PSB e virtual adversário da governadora no ano que vem, pedindo votos para ela. Os deputados federais socialistas Lucas Ramos e Pedro Campos também foram até a cidade, distantes 566 km do Recife, apoiar a postulante à prefeitura. Quem também apareceu lá para prestar apoio a Corrinha foi Fernando Monteiro, do PP, majoritário lá em 2022, com 5.539 votos, além dos estaduais Jarbas Filho (MDB) e Roberta Arraes (PSB). Tamanha preferência por Corrinha tem um motivo: ela era candidata única.

Pois bem. Entre 16 a 18 de maio desde ano, aconteceu na cidade do Sertão do Araripe a tradicional Caprishow, evento que explora a grande atividade econômica do município, a caprinocultura. Entre os shows que agitaram a festança, os dos cantores Mano Walter e Wallas Arraes, totalizando R$ 390 mil em cachês, bancados pela Empetur. Até aí nada de estranho, a não ser, em primeiro lugar, o fato de haver um aumento de R$ 270 mil com relação ao ano anterior, quando apenas o cantor Batista Lima, com “ordenado” de R$ 120 mil, foi pago pela empresa de turismo. 

Em segundo lugar, a gente encontra algo que é, no mínimo, estranho. Após a festança da Caprishow, a prefeita Corrinha se filiou ao PSD de Raquel Lyra. Ela assinou a ficha do partido no dia 10 de junho. Como ela era do PSB, a roubada de bola foi festejada como um gol. E assim tem sido. Mas Corrinha não é um caso isolado. Já dizia James Bond: “Uma vez é acaso. Duas vezes, é coincidência. Três vezes, é ação inimiga”.

Ainda no Sertão, mas no de Itaparica, fica Tacaratu. Lá, o 1º de Maio foi de muita festa, com direito a show da banda de forró Desejo de Menina. O custo? Coisa pouca, “somente” R$ 180 mil, pagos pela benevolente Empetur, presidida por Eduardo Loyo, ex-presidente do PSDB, ex-partido da governadora e da vice-governadora Priscila Krause. Deu nem um mês e o prefeito Washington Ângelo, oriundo do MDB e conhecido como Washington Bigodão, posava sorridente ao lado da governadora como novo filiado ao PSD.

Quem também deixou o MDB para se abrigar no ninho do PSD foi Elias Meu Fii, de Pombos, na Zona da Mata. Eleito pelo MDB, ele saiu do partido e bateu asas rumo ao Palácio das Princesas no dia 27 de maio. Antes disso, como nas outras cidades, a Empetur bancou uma festança com o sanfoneiro Dorgival Dantas, ao custo de R$ 180 mil, no feriado do Dia do Trabalhador. Aliás, o potiguar, defensor da tradição da sanfona nas festas populares, com toda razão, também fez um show no mesmo dia, em Amaraji, com o mesmo cachê, também pago pela Empetur. O prefeito de Amaraji, Fláucio Araújo, é da base de Raquel, mas isso a gente vai ver depois…

ROLO COMPRESSOR – O PSD é hoje o maior partido de Pernambuco em número de prefeitos. Muitos aproveitaram a saída de Raquel Lyra do PSDB e se filiaram junto com ela em 10 de março, em cerimônia no Recife. Na época, a governadora achava que iria controlar o ninho tucano no Estado, mas não contava com a ferrenha oposição do presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto, que segurou a agremiação com unhas e dentes ao ponto de Priscila Krause, que tinha acabado de entrar no partido, ter que sair. De lá pra cá, os 31 prefeitos que entraram com a governadora naquele dia viraram 69 – fruto do rolo compressor da máquina do governo, das promessas e, dizem alguns, ameaças de torneiras fechadas caso os gestores não caminhem ao lado do projeto de reeleição.

Isso não é novidade. O que é novo é o uso escancarado da Empetur para bancar essa farra. Em um cálculo por cima, só para viabilizar essa troca de partido, a empresa desembolsou R$ 1,14 milhão para agradar os prefeitos que se filiaram dias depois ao PSD. Mas essa turbinada no orçamento da Empetur  e o agrado à base da governadora é muito maior e vai ser o tema da nossa reportagem de amanhã.

Se eu fosse tu, não perdia…

AS RESPOSTAS – As assessorias da governadora Raquel Lyra, da Empetur e do PSD não retornaram aos pedidos de resposta. A Prefeitura de Salgueiro informou, via WhatsApp, que o prefeito Fabinho Lisandro ” já era da base da governadora. Trabalhou na campanha da governadora, Salgueiro já contou com o apoio do governo no Carnaval e agora no São João. Como o PRD a nível nacional pode ter uma fusão com outros partidos, ele que era o presidente estadual do partido resolveu migrar logo para o PSD. O PSD já estava na base de Fabinho durante a campanha municipal”. O blog não conseguiu contato com os outros citados, mas o espaço está aberto para as suas manifestações.

Foto da governadora: Yaci Ribeiro/Secom/PE

Demais fotos: Reprodução/Instagram