Por que os gastos da Empetur não são turismo e sim, política

Semana passada, na estreia oficial do blog, a gente mostrou que a Empresa Pernambucana de Turismo bancou uma farra de shows no interior do Estado com recursos públicos em redutos governados por aliados da governadora Raquel Lyra, candidata à reeleição em 2026. Na prática, o que se viu foi o investimento de milhões de reais a serviço da política, mas não uma política pública de cultura e turismo, como a governadora tem falado ao se referir a ações como o festival Pernambuco Meu País, lançado na última sexta.

Vimos, em resumo, o orçamento da empresa, que é uma SA, mas da administração indireta, vinculada à Secretaria de Turismo, ser inflado desde 2023 de maneira “estranha” sem nenhuma justificativa. Pior é não sabermos até mesmo uma desculpa qualquer porque a comunicação do governo não respondeu aos nossos questionamentos, o que é uma falta de respeito ao povo de Pernambuco e não ao blog. Os números estão nesses links, referentes às três matérias da série Festa no Interior.

A gente ainda mostrou que recursos também foram usados como “isca” para atrair prefeitos, digamos, indecisos para o projeto raquelista de reeleição. Pelo menos quatro cujas cidades receberam eventos bancados pela Empetur em maio deste ano – o mês em que eu me concentrei para focar no levantamento – foram para o PSD da governadora, que agora tem 70 gestores municipais. É verdade que alguns já tinham ouvido o canto da sereia, como bem me alertou uma colega, mas que o din-din da Empetur ajudou, ah, isso ajudou.

E uns dos casos mais flagrantes do uso político da Empetur foram os R$ 530 mil destinados a shows em Floresta, governada pela mãe do secretário de Turismo, a quem o presidente da empresa é subordinado. Em outra época ou país sério, seria caso de demissão ou de reprimenda pública. Principalmente no caso de uma governadora que diz que não há corrupção em seu governo.

Apoio institucional

Na verdade, a função da instituição na Empetur não é nada disso. É bem verdade que em seu objetivo, onde há vários e vários sub-objetivos, há o de “realizar o apoio institucional ou patrocínio de projetos ou eventos de interesse turístico, através do repasse de recursos financeiros, bens ou serviços”, o que, venhamos e convenhamos, é bastante vago. O que seria “interesse turístico”? Um show de Iguinho & Lulinha?

Cri..cri..

Há, segundo uma fonte que trabalhou por muitos anos na Empetur, uma lógica que não é de agora, sejamos justos com a governadora: os aliados pedem uma atração de peso para os municípios da sua base e, na maioria das vezes, é a própria equipe da empresa que prepara os projetos para fundamentar a análise técnica para avalizar o ok. Eu pedi à assessoria da Empetur os documentos, mas…

Que pessoas?

No site da instituição, a missão estratégica para a gestão 2024-28 fala em valores como “compromisso, ética, pessoas, responsabilidade social e excelência”. Não consigo enxergar onde gastar, em apenas seis meses, R$ 2,65 milhões em shows de Mano Walter combine com esses valores. Ou investir mais de meio milhão de reais na terra do secretário de Turismo. 

Silêncio

Cinco dias depois da carta-chantagem da taxação-chantagem de Donald Trump, a governadora Raquel Lyra, que faz parte da base do presidente Lula, não deu um pio sobre o assunto. Aliás, dos seus apoiadores, apenas o deputado federal Túlio Gadêlha é quem tem se pronunciado.

Melhor calado?

Jair Bolsonaro calado é um poeta. O ex-presidente se pronunciou sobre a taxação, fez de conta que a medida de Trump não é por causa dele e ainda se saiu com um pedido cara-de-pau por anistia. Aliás, todos as falas da família vão de cinismo a desfaçatez, passando por golpismo descarado e confissão na cara dura. 

Wilfred Gadêlha

Nascido em Goiana-PE no período pleistoceno, Wilfred Gadêlha é formado em jornalismo pela UFPE. Atuou em vários veículos como repórter e editor, é geminiano, metaleiro e metido a cantor. Já escreveu livros, apresentou programa de rádio e dirige e roteiriza documentários que ninguém viu. Também foi secretário de Comunicação na terra-natal e em São Lourenço da Mata e fez várias campanhas - algumas perdeu e outras ganhou.

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