Pernambuco falando – e calando – para o mundo

Como era de se esperar, os políticos pernambucanos mais ligados ao presidente Lula  reagiram em tom de comemoração e de apoio às medidas cautelares impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal. As exceções foram o prefeito João Campos (PSB), que embora tenha feito uma fala mais enfática sobre o tarifaço, não comentou sobre o tema do dia, e a governadora Raquel Lyra (PSD), que falou mas não falou nada. O ministro Silvio Costa Filho, que vinha falando alto ultimamente, calou-se. 

A não-fala de Raquel é bastante simbólica, porque, na avaliação de algumas pessoas, eu inclusive, ela tem optado por não entrar em polêmicas quanto a esse tema ou o tarifaço para não desagradar sua base mais à direita. Na entrega de novas viaturas à PM e aos Bombeiros, ela se limitou a dizer: “Não vou comentar ação da Polícia Federal. O trabalho deles está sendo feito e cabe aos julgadores do Supremo Tribunal Federal e à Polícia Federal fazerem seus trabalhos”. 

É pouco, principalmente levando-se em consideração que a governadora é de um partido da base do presidente Lula, cujo governo está sendo o principal alvo das ações de Bolsonaro no novo inquérito que resultou nas medidas que o afligiram hoje. Ele está sendo investigado justamente por instigar, junto com o filho Eduardo, o tarifaço.

Por outro lado, a governadora falou sobre o tema, resumindo-se às questões econômicas. O que, na minha opinião, é um grande avanço. Raquel Lyra governa um Estado que pode ter muito prejuízo com essa medida chantagista de Trump e, do mesmo modo que a critiquei ontem, a elogio hoje por ter quebrado o silêncio.

O prefeito do Recife também foi mais claro e, desta vez, destacou o caráter político do tarifaço. Também é simbólico. Com a guinada à esquerda do governo com o apelo à soberania e com Alckmin liderando as negociações econômicas, o vice ganha fôlego para continuar na vaga ano que vem. Mas João Campos perdeu pontos com os lulistas  a não falar sobre Bolsonaro. 

Humberto Costa

O senador petista foi direto: “Além de atentar contra as instituições, Bolsonaro teria trabalhado ativamente para prejudicar o Brasil com sanções internacionais – e, diante do avanço das investigações, preparava sua saída do país. Não é atitude de quem confia na própria inocência.  É comportamento típico de quem tem muito a esconder – e sabe que a Justiça está fechando o cerco”.

Teresa Leitão

Já a senadora foi um pouco mais comedida: “Diante de tudo que temos visto, era esperado que medidas cautelares fossem adotadas para impedir novas tentativas de obstrução da justiça, coação processual e articulações que colocam em risco até a soberania nacional. As medidas, como imposição da tornozeleira eletrônica, não são uma punição antecipada, mas sim uma garantia para que o processo judicial transcorra com integridade, livre de interferências indevidas”.

Marília Arraes

Fiel a seu estilo faca nos dentes, a ex-deputada federal do Solidariadade partiu pra cima: “A tornozeleira em Bolsonaro é mais que justiça: é um basta ao viralatismo de quem sempre entregou o Brasil à exploração estrangeira. Se atacar a soberania virou regra pra alguns, nada mais justo que a resistência tenha respaldo legal”

Danilo Cabral

Ex-candidato ao governo do Estado e atual superintendente da Sudene foi equilibrado: “Bolsonaro vai cumprir medidas coercitivas que são consequências diretas de seus crimes. Ver que nossas instituições continuam funcionando normalmente é uma prova de nossa soberania. É uma questão de justiça e normalidade democrática, não de vingança ou retaliação a Trump ou quem quer que seja. Como disse o presidente Lula em seu pronunciamento, o Brasil é soberano e pertence a um único dono: o povo brasileiro”.

Ivan e Jô

No PSOL, os pré-candidatos ao governo e ao Senado bateram sem dó. Ivan Moraes: “Bolsonaro vai usar tornozeleira por confessar, de forma consciente e voluntária, que tentou extorquir a Justiça e interferir em processos com o filho lá nos EUA. É confissão de golpe. É ataque à soberania. Não cabe anistia pra quem tenta destruir o Brasil! Cabe responsabilização!”. A vereadora do Recife Jô Cavalcanti: “É um dia histórico e importante para nossas instituições. É preciso comemorar, em nome de todas as milhares de vítimas da negligência de Bolsonaro durante a pandemia de Covid e em nome da nossa democracia que atravessou todos os ataques dos golpistas”.

Wilfred Gadêlha

Nascido em Goiana-PE no período pleistoceno, Wilfred Gadêlha é formado em jornalismo pela UFPE. Atuou em vários veículos como repórter e editor, é geminiano, metaleiro e metido a cantor. Já escreveu livros, apresentou programa de rádio e dirige e roteiriza documentários que ninguém viu. Também foi secretário de Comunicação na terra-natal e em São Lourenço da Mata e fez várias campanhas - algumas perdeu e outras ganhou.

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