Contrato de publicidade vira alvo de CPI contra Raquel na Assembleia

DódiGate entra no centro da crise política no governo Raquel Lyra e será investigado por Comissão Parlamentar de Inquérito na Alepe

A Assembleia Legislativa de Pernambuco aprovou nesta segunda-feira (4) a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o escândalo que ficou conhecido nos bastidores como DódiGate, um conjunto de suspeitas que envolve contratos milionários de publicidade do governo Raquel Lyra (PSD), indícios de favorecimento e o nome do empresário Waldemiro Ferreira Teixeira, o Dódi, primo da governadora. A CPI, instalada após requerimento da deputada Dani Portela (PSOL), terá 120 dias para apurar desde a prorrogação considerada ilegal de contratos até o possível uso de verba pública para alimentar redes de propaganda a serviço do governo, o chamado Gabinete do Ódio de Caruaru.

Dani Portela: autora do requerimento da CPI desconfia do uso de verba pública para criar Gabinete do Ódio

O Fervo acompanha esse caso desde o início. Já revelamos, por exemplo, que uma das empresas vencedoras da nova licitação de publicidade – a E3 Comunicação – passou a operar em um imóvel de propriedade de Dódi logo após a assinatura do contrato. Também mostramos que a diretora da agência atuou por mais de 15 anos na Makplan, empresa de Dódi declarada inidônea pelo TCE-PE. O contrato em questão, que pode chegar a R$ 1,2 bilhão em dez anos, se transformou de investimento em comunicação em bomba-relógio política.

O requerimento da CPI cita um conjunto robusto de suspeitas: um aditivo ilegal de R$ 100 milhões ao contrato anterior, descumprimento da Lei de Licitações, falhas graves na avaliação técnica das propostas e a ausência de transparência na correção de notas durante a sessão pública. A denúncia é de que houve manipulação de resultados, ausência de justificativas individuais e até ocultação de registros audiovisuais da licitação. O Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE) suspendeu os pagamentos e apura as irregularidades em auditoria especial, mas medida monocrática do desembargador Fernando Cerqueira, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJ-PE), liberou tudo de novo.

Mas há suspeita de que o governo pode ter usado os contratos para montar um Gabinete do Ódio, ao estilo da famosa estrutura de Carlos Bolsonaro. O requerimento da CPI fala em indícios de que verbas públicas foram usadas para financiar “terceiros” responsáveis por atacar instituições e agentes públicos, numa rede de comunicação oficiosa com aparência de jornalismo e publicidade. É aí que o DódiGate deixa de ser só um caso administrativo e entra no terreno do jogo bruto.

Fontes ouvidas pelo Fervo relatam que o clima no Palácio do Campo das Princesas é de inquietação. A CPI foi lida em plenário com apoio de deputados de diferentes partidos, do PL ao PT, e há pressão crescente para que o caso não seja abafado. A governadora, até agora, optou pelo silêncio. Mas a pergunta que ecoa na Alepe é direta: até onde vai a influência do primo, que já atuou em bastidores de campanhas de Raquel para a Prefeitura de Caruaru e, dizem, em eventos grandiosos na cidade?

Com nove titulares e nove suplentes, a CPI, assinada por 18 parlamentares, começa ainda neste mês. O DódiGate já é tratado como o maior escândalo do atual governo e pode comprometer não apenas o discurso de austeridade da gestão Raquel Lyra, mas também o seu futuro político. Como O Fervo antecipou: quando publicidade, parentes e R$ 1,2 bilhão entram na mesma licitação, a crise não tarda. Ela vem e pipoca!

Wilfred Gadêlha

Nascido em Goiana-PE no período pleistoceno, Wilfred Gadêlha é formado em jornalismo pela UFPE. Atuou em vários veículos como repórter e editor, é geminiano, metaleiro e metido a cantor. Já escreveu livros, apresentou programa de rádio e dirige e roteiriza documentários que ninguém viu. Também foi secretário de Comunicação na terra-natal e em São Lourenço da Mata e fez várias campanhas - algumas perdeu e outras ganhou.

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