Por Pedro Valença
Há dois anos o mundo foi noticiado de uma contraofensiva de grupos de resistência e libertação nacional palestinos, dentre os mais conhecidos, o Hamas. Pela primeira vez desde 2007, quando o governo sionista isolou a Faixa de Gaza do restante do mundo, o cerco foi rompido. E toda violência sofrida pelos palestinos em Gaza (e na Cisjordânia também) foi revidada contra quase todos aqueles que viviam ou estavam nas “fronteiras” da região considerada a maior prisão a céu aberto do mundo.
Eu digo quase, porque muitas mentiras foram veiculadas para que as pessoas continuassem enxergando o “Estado” de Israel como vítima. As duas mais famosas fake news foram dos bebês decapitados e dos estupros de mulheres. Apesar de inúmeras matérias confirmando o uso de estupro coletivo na ofensiva palestina de 7 de outubro, não existem evidências forenses de que elas ocorreram. O governo de Israel não divulga os depoimentos ou provas clínicas. Ironicamente, em relatório divulgado pela ONU em 13 de março de 2025, Israel é acusado de usar violência sexual sistemática como tática do genocídio. Sobre a decapitação de 40 bebês israelenses, há vasto conteúdo na internet que desmente essa mentira, incluindo um pronunciamento oficial da Casa Branca.
Muitas pessoas se perguntam quais seriam os motivos desta ofensiva. É difícil responder com máxima certeza visto que os principais veículos da mídia internacional se negam a entrevistar representantes da resistência palestina, como os membros políticos do Hamas. Entretanto, pode-se deduzir que, um dos principais objetivos do ataque seria sequestrar civis e militares israelenses para negociar em troca da libertação de civis palestinos que estão nos presídios israelenses. É importante lembrar que a legislação sionista permite a prisão de palestinos sem motivo (detenções administrativas). Segundo o Israel Prison Service (IPS), em dezembro de 2024, havia 3.327 detentos palestinos, sendo 112 menores de 18 anos.
Ainda sobre esta data histórica, contabilizam-se 1.160 mortos como fruto da violência da resistência palestina. Entretanto o jornal Hareetz investigou que várias vítimas israelenses foram mortas por disparos de metralhadoras dos helicópteros das Forças de Defesa de Israel (IDF). Pior é saber que o Protocolo Aníbal foi ordenado pelo IDF para evitar que soldados israelenses fossem feitos de reféns pelo Hamas. Esta é uma das informações relevantes que pouco foi reproduzido no jornalismo global.
Antes que me acusem de terrorista ou antissemita, eu afirmo que, de uma forma geral, nenhum ato de violência colabora para a Causa Palestina. Ainda mais com a visão orientalista e xenófoba que os países do Ocidente promovem contra os povos e nações do Sul Global. Entretanto, apesar da brutalidade da Operação Tempestade de Al-Aqsa, a ofensiva palestina de 7 de outubro de 2025 é uma (re)ação protegida e legitimada pelo Direito Internacional (resoluções da Assembleia Geral da ONU nº 2.649/1970, 2.787/1971 e 3.103/1974). Se formos contabilizar as perdas decorrentes do colonialismo sionista na Palestina, a ação do Hamas não se equipara em nenhum fator. Em setembro de 2025, já são mais de 65 mil palestinos mortos, outros 165 mil feridos, além de 377 mil desaparecidos. Há estudos que apontam que esses números – principalmente o de mortes – estão subnotificados.
É importante sempre ressaltar: Israel é um Estado Colonial, fundado por judeus sionistas cuja maioria é oriunda do leste europeu (judeus asquenazes ou asquenazitas). A Palestina já existia enquanto povo e nação antes de 1947, quando a Assembleia da ONU decretou a fundação do Estado de Israel (através da resolução nº 181), sem consultar o povo palestino. Isso é colonialismo puro, na veia.
Vários países ao redor do mundo iniciaram o processo de reconhecimento da Palestina, como a Espanha, Portugal e o Reino Unido, contrariando a narrativa israelense que não admite a existência de um Estado Palestino. Enquanto os principais centros de pesquisas sobre o tema confirmam que Israel pratica genocídio em Gaza, 82% dos israelenses são a favor da deportação dos palestinos dos seus territórios e 47% querem a morte de cada homem, mulher e crianças palestinas (conforme artigo no Hareetz publicado em maio de 2025).
A máscara do sionismo demorou, mas caiu. Uma solução não militarizada e eficaz é a simples repetição do que foi feito contra o apartheid sul-africano. Israel só irá recuar quando todos os países romperem suas relações diplomáticas e comerciais. Ou então quando tropas militares forem enviadas para Gaza para combater o IDF e proteger os palestinos, conforme sugerido pelos presidentes da Colômbia e Indonésia na 80ª Assembleia Geral da ONU.
O “plano de paz” proposto por Donald Trump não incluiu autoridades palestinas na elaboração desta proposta. Para surpresa de ninguém, Benjamin Netanyahu negou o plano porque não admite que a Palestina exista como um estado independente e soberano. Os palestinos não devem renunciar ao direito de sua soberania e do controle de seu reduzido território. Para quem lembra dos Acordos de Oslo (1993) e do retorno do Talibã ao poder no Afeganistão, Israel e EUA não passam o mínimo de confiança de que iriam cumprir esta proposta de paz.

Pedro Galvão é graduado em Administração (UFRPE) e especialista em Planejamento e Gestão Pública (UPE). Desde 2016 é militante da Causa Palestina e antissionista ferrenho.
Nota do editor: as opiniões publicadas nos artigos nem sempre refletem as do blog.