Apesar da pressão governista, CPI do Bilhão é instalada e elege Diogo Moraes presidente

Sessão foi marcada por questionamentos da base aliada sobre filiações enquanto oposição garantiu maioria e definiu direção do colegiado

Apesar das tentativas da base governista de esvaziar a sessão e contestar a legalidade das filiações de parlamentares, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Bilhão foi instalada nesta terça-feira (19) na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). O deputado Diogo Moraes (PSDB) foi eleito presidente por cinco votos, num acordo costurado entre os partidos de oposição. A primeira reunião de trabalho será marcada nos próximos dias, com data a ser anunciada nos canais oficiais da Alepe.

Proponenteda CPI, Dani Portela presidiu a reunião de instalação na manhã desta terça-feira 19

A votação foi marcada por três ausências — todas de representantes do governo do Estado — e por uma abstenção do deputado João Paulo (PT). Moraes foi candidato único e teve sua candidatura questionada por governistas, que apontaram inconsistências em sua filiação partidária.

Bastidores

A eleição também confirmou Antônio Coelho (UB) como vice-presidente e Waldemar Borges (MDB) como relator, ambos com os mesmos cinco votos, repetindo as ausências e a abstenção de João Paulo. A base governista insistiu no argumento de que Moraes e Borges ainda estariam oficialmente no PSB, segundo registros no sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A contestação, porém, foi rebatida pelos parlamentares e pela própria direção da Casa.

Alegandoarbitrariedades, a base governista deixou a CPI do Bilhão e não participou da eleição da mesa

Nos bastidores, a estratégia governista foi clara: esvaziar a sessão para deslegitimar a instalação e reforçar a narrativa de que a CPI nasce com vícios de origem. Ainda assim, a oposição conseguiu manter o quórum necessário, garantindo maioria no colegiado. O movimento foi resultado direto da mudança de filiação de três deputados — Diogo Moraes, Waldemar Borges e Júnior Matuto — que deixaram o PSB para se vincular a partidos alinhados ao bloco oposicionista.

Eixos de investigação

A CPI do Bilhão vai atuar em três eixos de investigação, incluindo uso de recursos públicos para gabinete do ódio

Logo após ser eleito presidente, Diogo Moraes prometeu conduzir os trabalhos “com rigor e seriedade”. Segundo ele, a comissão foi devidamente instalada dentro das regras regimentais e terá coragem para “passar essa história a limpo”.

A CPI do Bilhão irá se concentrar em três frentes principais:

  1. Aditivos contratuais nos dois primeiros anos do governo Raquel Lyra, que teriam elevado os gastos em publicidade para mais de R$ 100 milhões sem respaldo legal.
  2. Licitação concluída em abril de 2025, avaliada em até R$ 1,2 bilhão em dez anos, em que uma agência vencedora teria sublocado salas comerciais do empresário Waldemiro Teixeira (Dódi), primo da governadora.
  3. Suspeita de uma milícia digital financiada com recursos públicos para atacar adversários políticos da gestão.

“Agora é dar início aos trabalhos com muita seriedade, ouvindo o contraditório, mas também com a coragem e o rigor necessários. Há algo determinado, que são as supostas irregularidades nos contratos de publicidade, e é justamente a CPI que vai apurar a materialidade do que hoje é indício. Essa é uma prerrogativa do Poder Legislativo e vamos exercê-la com serenidade e equilíbrio”, afirmou Diogo.

Próximos passos

A CPI do Bilhão terá duração inicial de 120 dias, podendo ser prorrogada por mais 90. Além da mesa diretora formada por Diogo Moraes, Antônio Coelho e Waldemar Borges, também integram a comissão Dani Portela (Psol) e Rodrigo Farias (PSB) pela oposição; João Paulo (PT), Antônio Moraes (PP), Wanderson Florêncio (SD) e Nino de Enoque (PL), representando a base governista.

A tentativa da deputada Débora Almeida (PSDB) de anular a instalação foi frustrada: seu mandado de segurança, que questionava a filiação de Diogo Moraes e o prazo de convocação da reunião, foi negado pela Justiça. A tucana, entretanto, entrou com outra ação na Justiça.

Wilfred Gadêlha

Nascido em Goiana-PE no período pleistoceno, Wilfred Gadêlha é formado em jornalismo pela UFPE. Atuou em vários veículos como repórter e editor, é geminiano, metaleiro e metido a cantor. Já escreveu livros, apresentou programa de rádio e dirige e roteiriza documentários que ninguém viu. Também foi secretário de Comunicação na terra-natal e em São Lourenço da Mata e fez várias campanhas - algumas perdeu e outras ganhou.

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