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O medo da dor e a dor se equivalem em Pernambuco 

O medo da dor é mais forte que a própria dor, diz o cantor e guitarrista Carlos Lopes, da banda de metal brasileira Dorsal Atlântica. É mais ou menos o que acontece com relação à criminalidade: a sensação de insegurança é pior do que a própria insegurança, dizem os especialistas. O problema é quando, e estou me referindo a Pernambuco, o medo da dor e a dor se equivalem em força.

Os números são muitas vezes usados pelos políticos para atestar a sua incapacidade de resolver problemas. Eles são mexidos pra lá e pra cá como peças de dominó e manipulados de forma a enganar, ilusão de ótica a seu bel prazer. E isso ganha força em discursos goebbelianos repetidos à exaustão, sem reprimendas ou desmentidos até que sejam vistos como uma verdade incontestável. 

A estatística é uma forma de mentira, talvez a mais perigosa. O que a gente não diz é mais grave do que a gente diz. Ler nas entrelinhas é uma qualidade importante nos dias de hoje. Sempre o foi, mas hoje em dia, ah, hoje em dia é ainda mais.

“Ain, Wilfred, diz logo o que tu quer dizer”

Ok, vamos lá: a governadora Raquel Lyra continua distorcendo os números dos homicídios na famosa frase que repete à exaustão. A que o Estado está há 13 meses consecutivos reduzindo os assassinatos. 

Eu já falei disso aqui. Ela sabe que está dizendo os números errados. Todo mundo sabe. Acredita quem quer. 

Realidade

As reportagens que foram veiculadas pela Globo no Bom Dia Pernambuco e no NETV nesta terça-feira mostraram os números da maneira correta. Mais ainda: foram além da frieza aritmética e apresentaram o vida real, as pessoas e o sofrimento delas em detrimento da comemoração ostentação das porcentagens distorcidas. 

Respeito

Em respeito à memória destas pessoas que se foram e às famílias delas, as autoridades deveriam ter um pouco mais de decoro ao falar sobre esses dados. Olhar as estatísticas e pensar antes de se vangloriar sobre o que não é verdade: “Elas não estão corretas”. Isso se chama espírito público. 

Sertão 

Pré-candidata ao Senado pelo PSOL e sem precisar disputar com ninguém pela vaga, a vereadora do Recife Jô Cavalcanti também esteve no Sertão no final de semana. Andou por Petrolina e Serrita, onde compareceu à Missa do Vaqueiro e se encontrou com lideranças de esquerda, como o deputado estadual Doriel Barros, vice-prefeito Zé Tadeu e o ex-prefeito de Granito, João Bosco.

MST

O MST ocupou a sede do Incra no Recife como forma de pressionar o governo federal para acelerar a reforma agrária no País. Desde 2023, quando Lula tomou posse, apenas  3.353 famílias foram assentadas. A meta é de 65 mil. Hoje são mais de 16 mil famílias acampadas no Estado, mas o movimento reclama da lentidão no processo. 

Vergonha

O processo de dissociação de caráter dos traidores da pátria vem em escalada a cada dia. Quando a gente acha que nada mais vai nos chocar, somos confrontados com cenas como a dos deputados do PL que ostentam uma bandeira exaltando Donald Trump dentro da Câmara Federal. Só não é o fundo do poço porque a gente tá se acostumando a ver que as coisas sempre pioram.

Wilfred Gadêlha

Nascido em Goiana-PE no período pleistoceno, Wilfred Gadêlha é formado em jornalismo pela UFPE. Atuou em vários veículos como repórter e editor, é geminiano, metaleiro e metido a cantor. Já escreveu livros, apresentou programa de rádio e dirige e roteiriza documentários que ninguém viu. Também foi secretário de Comunicação na terra-natal e em São Lourenço da Mata e fez várias campanhas - algumas perdeu e outras ganhou.

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