Botando Quente

Um silêncio que diz mais do que muito discurso

“Lavar as mãos em face da opressão é reforçar o poder do opressor, é optar por ele. Não há neutralidade possível.”

Presente no clássico Pedagogia do Oprimido, a famosa frase de Paulo Freire causa calafrios e ânsia de vômito em uma particular parcela da sociedade, os bolsonaristas. Entre várias bazófias popular es entre estes acéfalos, há uma ojeriza ao educador pernambucano, instigada pelas mais obscuras mentes do nosso tempo, mas que escancara uma coisa bastante interessante: neutro, só xampu de bebê.

Esse nariz de ceratodo se justifica para fazer um lembrete: não há neutralidade possível quando a democracia está em risco. Semana passada, quando o ex-presidente Jair Bolsonaro foi condenado pelas atrocidades que cometeu contra o Estado democrático de direito, houve muitas manifestações a respeito do seu julgamento . Até mesmo seus partidários se manifestaram, entre a escatologia, o cinismo e a falta de cognição.

Aqui em Pernambuco, também o foi assim. Além da condenação no STF, há uma outra, a da anistia cara-de-pau que tentam empurrar no Congresso, repudiada por quase todas as lideranças de todos os espectros democráticos.

Mas há uma exceção: a governadora Raquel Lyra. Não se ouviu ou leu uma palavra sequer da chefe do Executivo estadual a respeito das tentativas da extrema-direita, Bolsonaro, seus comparsas e a trupe fora de sintonia com o mundo real de livrar da cadeia quem atentou contra a democracia.

“Ain, Wilfred, a governadora não tem que falar nada. Ela não é deputada nem senadora”

Colóquio para bovino cair nos braços de Morfeu. Líderes se posicionam sobre muitos assuntos relevantes e esse é o mais importante que a gente tem agora. Mas é bom lembrar: não se posicionar é se posicionar. E, voltando a Paulo Freire, nesses casos a neutralidade é um posicionamento ao lado dos opressores.

Vindo da governadora, que vive enrolada na bandeira de Pernambuco, um Estado naturalmente rebelde, ficar em silêncio num momento como esse é dizer muita coisa.

É um dos silêncios mais barulhentos que já ouvimos em Pernambuco.

Sinalização

A gente não pode se esquecer que em 2022 a então candidata ficou “ neutra” com relação à eleição presidencial. Isso lhe rendeu muitos votos da base bolsonarista no Estado – teve o apoio de Anderson Ferreira, Clarissa Tércio, Cleiton Collins e tantos outros “patriotas”.

Repetição

A gente tá revendo o filme. A governadora anda dizendo ao microfone que não se importa com a cor da bandeira e outras barbaridades similares. Mas, como diria Freire se vivo fosse, essa neutralidade tem cor, textura e cheiro de bolsonarismo. Que o diga a foto de Raquel Lyra com uma pistola, que viralizou e recebeu elogio de ninguém menos do que Meira. Significa e muito.

Parlasul

O senador Humberto Costa (PT) assumiu a presidência do Parlamento do Mercosul nesta segunda (15), tornando-se o primeiro nordestino a ocupar o cargo. O Parlasul é o órgão legislativo do Mercosul, formado por representantes eleitos dos países do bloco, com a missão de promover integração política, econômica e social na região. Foto: Roberto Stuckert Filho

Cannabis

O ex-vereador Ivan Moraes (PSOL), pré-candidato ao governo de Pernambuco, lançou nas redes a proposta de criar um plano estadual da cannabis. A ideia prevê convênios com universidades e pequenas produtoras para cultivo, uso do Lafepe na fabricação de remédios e distribuição gratuita pelo SUS, além de aplicações industriais como roupas, cordas e tijolos. Foto: Beto Figueiroa

Wilfred Gadêlha

Nascido em Goiana-PE no período pleistoceno, Wilfred Gadêlha é formado em jornalismo pela UFPE. Atuou em vários veículos como repórter e editor, é geminiano, metaleiro e metido a cantor. Já escreveu livros, apresentou programa de rádio e dirige e roteiriza documentários que ninguém viu. Também foi secretário de Comunicação na terra-natal e em São Lourenço da Mata e fez várias campanhas - algumas perdeu e outras ganhou.

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